
Com certeza, você já conhece esta cena: após passar por algum caixa e pagar suas compras, na falta do troco, lhe ofereceram balas em vez do troco propriamente dito. Não precisam nem responder.Morei nos Estados Unidos por seis anos e sempre me retornaram o troco, independentemente do seu valor. Lá, se o seu troco for três centavos, você recebe três centavos. Se for um centavo, você recebe o seu rico um centavinho, chamado de penny. Jamais me ofereceram bala de troco, nem chicletes, tampouco caixas de fósforo. É uma questão de cultura: não importa quanto; dinheiro é dinheiro. Aqui no Brasil, ninguém reclama da falta do troco. Em países de primeiro mundo, o troco é sagrado.Comecei então a fazer experiências: exigir o troco só para ver a reação das pessoas. Bastaram algumas tentativas para receber hilárias respostas. No caixa de um supermercado, minha conta foi de R$ 6,49. Dei R$ 6,50 e disse: “Quero ver se você vai ter o troco”. Ela respondeu: “Se o senhor quiser, chamo a assistente de caixa”. “Sim”, repliquei. A moça do caixa ao lado se virou e olhou pra mim. Tentei imaginar o que ela estava pensando: quem é este chato que está querendo R$ 0,01 de troco? Ela acendeu a luz. Em poucos instantes, chegou uma assistente de caixa e ficou sabendo que eu queria meu troco. Ela foi buscá-lo. Durante a espera, as duas caixas começaram a conversar comigo: “A próxima vez que eu vir o senhor, já vou acender a luz (risos)”. A outra retrucou: “Pior é que ele tem razão: nós deveríamos ter uns centavinhos na gaveta do caixa”. A assistente voltou; recebi, então, meu troco.Na sequência, entrei em duas lojas de R$ 1,99 e comprei o mesmo produto: paçoquinhas de amendoim. Nestes dois testes houve respostas diferentes. Na primeira, a moça do caixa me perguntou se poderia ser uma balinha de troco; disse-lhe que não. A cliente que estava atrás de mim olhou com espanto. Ela me deu meu R$ 0,01. Percebi que ela também tinha um pote com balas, bem à mão, próximo ao caixa. Na segunda loja, foi diferente. Quando entreguei minha paçoquinha, a pergunta foi a mesma: “Pode ser uma bala?” Claro que eu disse não. Ela então disse que não tinha troco; retruquei que queria meu troco. Ela se rendeu e me deu R$ 0,05, porém antes me perguntou: “Você tem quatro centavos de troco?” E eu respondi: “Não”. Então ela disse que eu poderia ficar com aquela moedinha.Numa lotérica, a moça do caixa disse que não tinha o meu troco: R$ 0,04. Falei-lhe que queria meu troco (estava rindo por dentro, porém queria ver a reação dela). Ela pediu para deixar para o próximo dia. Insisti que queria meu troco. Ela me devolveu R$ 0,05. Na semana seguinte, quando voltei à lotérica, havia um cartaz: “Favor confira o seu dinheiro no ato do troco. Não aceitamos reclamações”. Parece até piada, mas é a pura verdade.Vamos fazer uma conta rápida: imagine que você passou no caixa de um supermercado e ele ficou devendo o seu troquinho: R$ 0,02. Multiplique por cem clientes em um dia. Agora multiplique por 30 “bocas de caixa”, por dia. Continue multiplicando por 30 dias. Finalmente, multiplique por dez lojas em todo o Estado. Total: R$ 18 mil. Você sabe quem paga aqueles brindes que são sorteados no final do ano? Nós, com o nosso rico troquinho, juntando cada centavinho que nós não exigimos; e são só dois centavinhos!Outro dia, quando minha filha estava passando pelo caixa perguntaram a ela: “Posso ficar devendo R$ 0,10?” Ela respondeu com a mesma pergunta: “Posso eu ficar devendo R$ 0,10?” Disse-me que recebeu de troco R$ 0,25, com uma batida de mão no balcão e uma “cara feia”.Para finalizar, um amigo gerente aposentado de várias agências bancárias em Joinville me disse que as moedas de R$ 0,01 não estão mais sendo produzidas pelo Banco Central. Pois é, meninos e meninas, aonde vamos parar? Eu só sei de uma coisa: faço questão do “troquinho nosso de cada dia”. Não quero mais balas.
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