
Viver em outro país não é um mar de rosas como pensa a maioria. Antigamente, as pessoas achavam que o dinheiro dava em árvores e se voltava rico. Ledo engano. Neste assunto posso falar de carteirinha. Vivi seis anos da minha vida nos Estados Unidos e posso dizer que foi uma experiência marcante para mim e para a minha família. Já faz alguns anos; 14 para ser mais exato. Ainda me recordo das lições aprendidas.Quando decidi arriscar a vida na terra do Tio Sam, tinha três objetivos bem definidos: o sonho da casa própria, conhecer a América e aprender inglês. São sonhos comuns que a maioria dos brasileiros possui. Graças a muito esforço e dedicação, foi possível atingir os três, mas não foi fácil. Trabalhava de segunda a segunda, literalmente. Costumo dizer que trabalhava segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo.Sim, sete dias por semana, 30 dias por mês, 365 dias por ano. Natal, Ano-novo, Dia dos Pais, das Mães, do Trabalho, Páscoa e tudo que vocês possam imaginar. Lá se dá muito valor ao trabalho. Lá se aprende o que realmente significa trabalho, sem enrolação do tipo um trabalha e três ficam olhando.Claro que o início nunca é fácil. A maior dificuldade a ser enfrentada é a do idioma. Por mais que você aprenda, sempre tem a dificuldade na hora de ouvir, processar, compreender, para então responder o que lhe é solicitado. Eu costumo dizer aos meus alunos: aprenda o máximo que você conseguir. Se você aprender pouco, você sofrerá bastante. Se você aprender bastante, você sofrerá pouco. De qualquer forma, você sofrerá. Se o início não é fácil, o meio e o fim também não. É claro que depois que você domina o idioma as coisas mudam: sofre-se menos.A saudade da família e dos amigos é muito grande. Hoje em dia, tudo é muito mais fácil. Por meio da internet, nos comunicamos com qualquer parte do mundo, online, ao vivo e em cores. A webcam nos ajuda muito neste sentido. Pode-se matar a saudade com um bate-papo na frente do computador. Isto faz com que as pessoas possam se ver cara a cara, mesmo de longe. Na minha época, era só por meio de carta e telefone. E depois da ligação muita choradeira.O bom que é chorávamos juntos, abraçados. Saudades dos amigos, parentes, da cidade. Chorar é um verbo que todo brasileiro conjuga quando está fora do País, e muito. Joinville estava sempre na nossa mente e no coração.Existem também várias perguntas que se pode elencar. Por que muitos se aventuram? Quais são os benefícios e os malefícios? Vale a pena? Para mim, valeu em todos os sentidos. Hoje moro na minha casa. Não posso dizer que conheço o país do Obama 100% porém, parte dos lugares onde passei estão retratados na memória.Eu não ouvi falar, como a maioria, tampouco me disseram. Eu vi, com meus próprios olhos, como eles vivem, falam, comem. Conheci a cultura, os costumes. Por meio do idioma aprendido, faço minha profissão hoje em dia. E além do inglês, aprendi espanhol. Quem mora na Flórida convive com colombianos, porto-riquenhos, cubanos e, na grande maioria, mexicanos. Dá até pra dizer que eles são iguais a nós.Dentre muitas coisas de que sinto falta, uma delas é a profissionalização dos serviços. A carteira de motorista tirei-a num dia. Os bancos não têm fila. O tráfego é o dos sonhos. Todos respeitam as leis de trânsito e não tem o jeitinho brasileiro, muito menos o do americano.Quando se entra em uma loja, se é recebido com um largo sorriso no rosto. Nunca fui atendido por algum funcionário mal humorado, achando que estava me fazendo um favor. A grande frase do comércio é: sua satisfação ou o dinheiro de volta. Se você não está satisfeito com o produto comprado, você recebe o rico dinheirinho de volta. É difícil de acreditar, mas é verdade.Porém, é muito bom quando se retorna. Ver os amigos, a família e novamente Joinville. Esse é o maior prêmio. Quando me perguntam se pretendo voltar, respondo: só se for para ver meu amigo Mickey Mouse. Se valeu a pena, respondo, como disse Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
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