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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Crematório ou não crematório?


Parafraseando Shakespeare, em Hamlet: “crematório ou não crematório, eis a questão”. A frase suscita muita especulação. Mas, afinal, quais são os temores, os mitos, as expectativas que carregam as pessoas quando se trata da hora de nos despedirmos dos nossos entes queridos?A cremação é a prática de incineração do corpo após a morte. Coloquialmente, é a passagem desta vida para outra dimensão. Engraçado é ouvir da maioria que “do outro lado tudo é muito melhor” ou “agora ele está descansando”. Porém, esta mesma maioria não pretende passar “desta para uma melhor” tão cedo.A Índia, por exemplo, desenvolve esta prática milenarmente. Numa conversa informal com alguns colegas professores, perguntei a uma como foi a experiência de ter assistido a um ritual de cremação, naquele país. Foi na cidade de Varanasi, às margens do rio Ganges. Havia um carro que carregava um volume, cheio de flores e um “embrulho de gente” com serragem, gravetos e flores por cima. Durante o processo, não havia cheiro. O único odor sentido foi o de sândalo, uma madeira aromática assim como outras do tipo. Só havia homens. Mulheres e crianças não participam, porque dizem que o choro atrapalha a ascensão da alma. O próprio Ganges é o cemitério. Morrer em Varanasi é o máximo da espiritualidade deles. Como se vê, foge à nossa cultura.Aqui em Joinville, a Câmara de Vereadores está discutindo a questão. Aliás, a discussão já vem de tempo. No final da década de 1990, quando o então prefeito Luiz Henrique da Silveira ainda ocupava o cargo, foi solicitado um estudo à implantação de um crematório. Faz, portanto, dez anos que se pensa na possibilidade de a Manchester Catarinense ofertar esta outra opção de ritual pós-morte. Naquela época, existia uma resistência muito grande; parece que agora a opinião está mudando, pois para a maioria das pessoas perguntadas, a resposta foi favorável.Atualmente, existe um projeto tramitando na Câmara, ao qual o prefeito Carlito Merss solicitou seu veto, para que seja encontrado um melhor local e definição para a questão da “ocupação do solo”. Mas ela não é só política ou burocrática. Dois grandes temas, pelo menos, devem ser considerados hoje em dia: a questão do meio ambiente e a questão religiosa.Com relação ao primeiro, existem duas correntes. Se, por um lado, a queima produz a poluição do ar, por meio da combustão e liberação do CO2, por outro, quando um corpo é enterrado, ocorre o efeito chamado “necrochorume” – o da decomposição, do qual 60% se tornam água; 30%, sais minerais; e 10%, substâncias orgânicas. Todo este material desce até as camadas do subsolo, poluindo desta forma os lençóis freáticos. Além da poluição, vem a questão do depósito: um espaço físico tremendo, comparado com aproximadamente um 1,5 quilo de cinzas; uma economia muito mais racional.Quanto à questão religiosa, existe a crença da ressuscitação; muitos acreditam que os mortos ressuscitarão. Chega a mexer com os brios e crenças pensar de outra forma. Outros já dizem que é a maneira mais fácil e rápida de se voltar ao pó. Para a ciência, após a decomposição, torna-se impossível um organismo voltar a viver. Mas, para Deus, tudo é possível. Se realmente for assim, das cinzas também se ressuscitará; por que temer? É difícil compreender. Faltaria lugar no planeta Terra. Isso não deixa de ser uma forma de pensar materialmente. Entretanto, o que permanece é a alma. O importante é o que a pessoa fez quando ainda estava neste mundo – ou deixou de fazer. O importante é a forma com que ela contribuiu para o engrandecimento da humanidade. O corpo perece; a alma permanece.Joinville já merece um crematório; já merece essa outra opção. É uma questão democrática. Aquele que pensa diferente, que utilize a forma tradicional. Outra coisa: antes que aconteça a hora, que seja feita a doação dos órgãos para aqueles que estão agonizando na dor, ou mesmo não enxergando esta natureza maravilhosa que Deus nos deu. De qualquer forma, tudo irá ou “pelos ares” ou por “água abaixo”.

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